PARALISIA CEREBRAL
- Larissa Pereira Jordão
- 14 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de out.
A paralisia cerebral (PC) refere-se a um grupo de distúrbios no desenvolvimento do controle motor e da postura, ocorrendo como resultado de um comprometimento não progressivo do sistema nervoso central em desenvolvimento.
Uma das definições mais adequadas é aquela que caracteriza a paralisia cerebral como um grupo não progressivo, mas frequentemente mutável, de distúrbios motores, especialmente do tônus e da postura que podem ser acompanhados por distúrbios da sensação, cognição, comunicação, percepção e/ou distúrbio convulsivo secundários a lesão do sistema nervoso central em desenvolvimento, ou seja, desde a fase embrionária até os 2 anos de vida.
Etiologia (causas)
São preditores para paralisia cerebral a baixa idade gestacional (prematuridade), o baixo peso ao nascer, a asfixia perinatal, a leucomalácia periventricular ou subcortical, a hemorragia intraventricular grave, a isquemia cerebral e a lesão da substância cinzenta profunda.
1. Pré natal: mal formações encefálicas e infecções congênitas.
2. Peri natal: Anóxia (falta de oxigenação cerebral).
3. Pós natal: Dano encefálico entre a 2ª semana de vida até o 2º ano de vida. Causas mais comuns: meningite, lesões traumáticas e tumorais.
Quadro clínico
A desordem motora está intimamente relacionada com a área do sistema nervoso central comprometida. São os seguintes os tipos clínicos:
Espástica: caracteriza-se pelo aumento do tônus muscular.
Discinética: caracteriza-se pela presença de movimentos involuntários.
Atáxica: caracteriza-se por incoordenação e deficit de equilíbrio.
Em alguns pacientes observam-se alterações concomitantes.

A leucomalacia periventricular (LPV) - conforme imagem acima - é uma lesão que ocorre na substância branca do cérebro — a parte que contém as fibras nervosas responsáveis por levar mensagens entre os neurônios e o corpo.
“Leuco” significa branco, “malacia” quer dizer amolecimento, e “periventricular” indica que a área afetada está ao redor dos ventrículos cerebrais (as cavidades centrais por onde circula o líquido cefalorraquidiano).
O que causa?
A LPV geralmente é consequência de uma falta de oxigênio ou de fluxo sanguíneo (isquemia) em bebês prematuros.
Essas áreas do cérebro são especialmente vulneráveis nas primeiras semanas de vida, quando o sistema circulatório ainda está imaturo. A lesão mata parte da substância branca, formando pequenas áreas de necrose ou cistos.
Relação com a cápsula interna
A cápsula interna - imagem abaixo - é uma espécie de “autoestrada” de fibras nervosas que liga o córtex (a parte pensante do cérebro) ao tronco cerebral e à medula espinhal.
Quando a leucomalacia ocorre próximo a essa região, as vias motoras são danificadas — especialmente aquelas que controlam o movimento dos braços e das pernas.

Por isso, há uma correlação direta entre a localização da lesão e o tipo de sintoma motor:
Se a lesão afeta mais as fibras que descem para as pernas, a criança pode desenvolver paralisia cerebral do tipo diparética espástica (rigidez principalmente nas pernas).
Se as lesões são mais extensas, atingindo também as fibras que controlam os braços e o tronco, surgem formas mais graves, como a tetraparesia espástica.
Sintomas nas pessoas com paralisia cerebral
Os sintomas mais comuns em quem teve LPV são:
Aumento do tônus muscular (rigidez);
Movimentos lentos e com esforço;
Dificuldade de equilíbrio e coordenação;
Alterações na marcha, como caminhar na ponta dos pés;
Em alguns casos, atrasos cognitivos e dificuldades visuais, pois as áreas da visão ficam próximas das zonas lesadas.
Em resumo:
A leucomalacia periventricular danifica a “fiação” que transmite os comandos motores, especialmente na vizinhança da cápsula interna, e isso explica por que tantos indivíduos com esse tipo de lesão desenvolvem paralisia cerebral espástica, predominantemente nas pernas.
O cérebro continua funcionando — mas parte dos “cabos” que ligam a intenção ao movimento se rompeu.
Sistema de Classificação da Função Motora Grossa
O Sistema de Classificação da Função Motora Grossa é um sistema de classificação de 5 níveis que descreve a função motora grossa de crianças e jovens com paralisia cerebral.
Questionário de Relatório Familiar GMFCS
O recém-desenvolvido Questionário de Relato Familiar e de Auto-Relato do GMFCS apresenta uma opção para o envolvimento dos pais na classificação das habilidades motoras das crianças.
Medida da Função Motora Grossa (GMFM)
A Medida da Função Motora Grossa (GMFM) é uma ferramenta de avaliação projetada e avaliada para medir as alterações na função motora grossa ao longo do tempo ou com intervenção em crianças com paralisia cerebral.
O General Movements Assessment (GMA), também conhecido como avaliação dos movimentos gerais de Prechtl, é um método usado para observar o desenvolvimento neurológico de bebês, especialmente aqueles com risco de paralisia cerebral (PC).
O que são os “movimentos gerais”
Logo após o nascimento, e até por volta dos 5 meses de vida, o bebê apresenta movimentos espontâneos de todo o corpo — braços, pernas, tronco e cabeça se movem de forma fluida, variável e complexa.
Esses são os movimentos gerais (ou general movements). Eles acontecem sem estímulo externo e refletem a integridade das conexões cerebrais entre o córtex, o tronco encefálico e a medula espinhal.
Como a avaliação é feita
A observação é feita por meio de vídeos curtos, gravados com o bebê acordado, tranquilo e deitado de costas.
Um profissional treinado analisa a qualidade dos movimentos — não apenas se o bebê se mexe, mas como ele se mexe: ritmo, fluidez, variabilidade, harmonia e amplitude.
Existem dois períodos principais:
Movimentos do tipo “writhing” (das primeiras semanas até cerca de 8–10 semanas de idade): são movimentos amplos, com rotações suaves do tronco e dos membros.
Movimentos “fidgety” (entre 9 e 20 semanas): são pequenos e contínuos, envolvendo todo o corpo, com ritmo e variação natural.
O que se observa
Movimentos normais: variáveis, suaves e complexos → indicam bom funcionamento neurológico.
Movimentos anormais ou ausentes: rígidos, repetitivos, monótonos ou totalmente ausentes → indicam risco de lesão cerebral precoce, como a leucomalacia periventricular.
Relação com a paralisia cerebral
A ausência dos movimentos “fidgety” entre 9 e 20 semanas é um dos marcadores mais confiáveis para o diagnóstico precoce de paralisia cerebral, especialmente da forma espástica (que ocorre quando há lesão da substância branca próxima à cápsula interna, como na LPV).
Com essa avaliação, é possível:
Detectar o risco antes dos 6 meses de idade;
Iniciar intervenções precoces, aproveitando a plasticidade cerebral;
Melhorar o prognóstico motor e funcional do bebê.
Em resumo:
O General Assessment de Prechtl é como uma janela precoce para observar se o cérebro do bebê está “orquestrando” bem o corpo. Quando os movimentos perdem música, ritmo e variação, é sinal de que a rede neural pode estar lesionada — e agir cedo faz toda a diferença.
Por fim, temos a ferramenta HINE (Hammersmith Infant Neurological Examination) que está disponível no link abaixo.
Texto sujeito a alterações e atualizações






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