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Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS) na Reabilitação Pediátrica: Técnica, Benefícios, Cuidado e Indicações.

  • Foto do escritor: Rogério Melaré
    Rogério Melaré
  • 16 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 16 de dez. de 2024

Criança com estimulação transcraniana

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS - Transcranial Direct Current Stimulation) é uma técnica neuromodulatória não invasiva que tem ganhado espaço na reabilitação pediátrica. Seu principal objetivo é modular a excitabilidade cortical, promovendo mudanças na atividade cerebral que podem facilitar a reabilitação de crianças com distúrbios neurológicos.


A tDCS utiliza uma corrente elétrica de baixa intensidade (geralmente entre 1 a 2 mA), aplicada através de eletrodos posicionados no couro cabeludo. A corrente percorre o cérebro de forma controlada, podendo aumentar (anódica) ou reduzir (catódica) a excitabilidade dos neurônios. Isso cria um ambiente mais propício para a neuroplasticidade, potencializando o aprendizado motor e cognitivo.


🧠 Como a tDCS funciona?


O cérebro funciona a partir de impulsos elétricos, e a tDCS atua diretamente nesse sistema, influenciando a atividade cerebral. A técnica não provoca disparos neuronais diretos, mas modula o limiar de disparo dos neurônios, deixando-os mais ou menos suscetíveis a estímulos.


Criança com tdcs e ábaco

A corrente elétrica pode ter dois efeitos principais:

Estimulação anódica (+): aumenta a excitabilidade neuronal, facilitando o aprendizado motor, cognição e o controle do movimento.

Estimulação catódica (-): reduz a excitabilidade neuronal, sendo útil em casos de hiperatividade neural, como espasticidade ou distúrbios do movimento.


🧒 Indicações da tDCS na Pediatria


O uso da tDCS na reabilitação pediátrica tem mostrado resultados promissores em diferentes condições neurológicas. Dentre as principais indicações, destacam-se:

Paralisia Cerebral: melhora da função motora, controle do tônus muscular e aprimoramento das habilidades funcionais.

Transtorno do Espectro Autista (TEA): pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e comportamentais.

Distúrbios do Desenvolvimento Motor: favorece a plasticidade neuronal, facilitando o aprendizado motor.

Distúrbios de Aprendizagem: tem sido investigado para melhorar funções cognitivas, como atenção e memória.

Epilepsia Refratária: a tDCS catódico pode ajudar a reduzir a excitabilidade neuronal em casos de epilepsias resistentes a medicamentos.

Síndromes Genéticas com Alterações Neuromotoras: como Síndrome de Rett, Síndrome de Down e outras que afetam o desenvolvimento motor e cognitivo.


Benefícios da tDCS na reabilitação pediátrica


A tDCS oferece vantagens importantes no tratamento de crianças com distúrbios neurológicos:

Potencialização do aprendizado motor: crianças com paralisia cerebral podem apresentar melhorias significativas no controle do movimento e na execução de atividades funcionais.

Melhora da cognição: crianças com TEA ou distúrbios do desenvolvimento intelectual podem mostrar avanços na atenção, memória e habilidades cognitivas gerais.

Redução da espasticidade: ajuda a modular o tônus muscular em crianças com distúrbios motores.

Facilitação da neuroplasticidade: a tDCS cria um ambiente cerebral mais favorável para o aprendizado e o reaprendizado motor e cognitivo.

Técnica não invasiva e indolor: o procedimento não causa dor e é bem tolerado pelas crianças, o que facilita sua aceitação durante as sessões.


⚠️ Cuidados e Contraindicações da tDCS


Embora seja uma técnica segura, a tDCS requer cuidados específicos para garantir a segurança e a eficácia do tratamento.


Cuidados durante o procedimento

Avaliação inicial: a criança deve ser avaliada por um profissional habilitado, que definirá o protocolo de aplicação, como intensidade, localização dos eletrodos e duração da estimulação.

Monitoramento contínuo: a criança deve ser supervisionada durante toda a sessão para garantir a segurança e o conforto.

Uso de eletrodos adequados: o tamanho e a localização dos eletrodos variam de acordo com a região cerebral a ser estimulada e as necessidades do paciente.

Acompanhamento clínico: o progresso e as respostas ao tratamento devem ser monitorados regularmente.


🚫 Contraindicações da tDCS


A tDCS não é indicado para todas as crianças. Algumas condições de saúde exigem precauções adicionais ou a suspensão do tratamento:

Presença de dispositivos eletrônicos implantados

(marcapassos, neuroestimuladores) que possam sofrer interferência elétrica.

Feridas, lesões ou irritações no couro cabeludo no local de aplicação dos eletrodos.

Convulsões não controladas: a tDCS deve ser aplicado com cautela, especialmente em crianças com crises epilépticas frequentes.

Alterações psiquiátricas severas: casos de instabilidade emocional podem exigir acompanhamento rigoroso durante a aplicação.


👩‍⚕️ Quem está habilitado a aplicar a tDCS?


Para garantir a segurança e a eficácia da tDCS, o procedimento deve ser realizado por profissionais habilitados e capacitados. Isso inclui:

Fisioterapeutas neurofuncionais: aplicam a tDCS no contexto de reabilitação motora, especialmente em crianças com paralisia cerebral e distúrbios motores.

Terapeutas Ocupacionais: utilizam a tDCS para melhorar as habilidades funcionais e sensoriais de crianças com distúrbios do desenvolvimento.

Neuropsicólogos e Psicólogos: podem utilizar a tDCS em crianças com TEA, TDAH e distúrbios de aprendizagem, visando a melhora das funções cognitivas.

Médicos neurologistas e psiquiatras: supervisionam os tratamentos, especialmente em casos que envolvem condições neurológicas complexas e tambeém podem aplicar.


A capacitação para o uso da tDCS envolve cursos de formação específicos e atualização constante, já que a técnica exige conhecimento sobre neurociência, neuroplasticidade e localização de áreas corticais.


📚 Evidências Científicas


Diversos estudos têm demonstrado a eficácia da tDCS na pediatria. Pesquisas apontam benefícios para o controle motor e cognitivo em crianças com paralisia cerebral, autismo e distúrbios de desenvolvimento. Os resultados mostram que a técnica, quando associada a terapias convencionais, potencializa os ganhos funcionais.


Criança com tdcs e pintando

Um estudo de Fregni et al. (2005) destacou que a tDCS anódico aplicado no córtex motor primário de crianças com paralisia cerebral resultou em melhora significativa no controle motor e na força muscular. Além disso, revisão de literatura realizada por Morya et al. (2019) reforça que a tDCS é uma ferramenta promissora para reabilitação de desordens motoras e cognitivas.


Conclusão


A tDCS é uma ferramenta segura, eficaz e promissora na reabilitação neurológica pediátrica. Por meio da modulação da excitabilidade cortical, a técnica promove a neuroplasticidade e potencializa os ganhos motores e cognitivos em crianças com paralisia cerebral, TEA e outras condições neurológicas.


Para garantir a segurança, a tDCS deve ser aplicado por profissionais habilitados, como fisioterapeutas neurofuncionais, terapeutas ocupacionais, neuropsicólogos e médicos neurologistas. É fundamental realizar uma avaliação inicial cuidadosa, respeitar as contraindicações e monitorar continuamente a criança durante o procedimento.


A combinação de tDCS com técnicas convencionais de reabilitação aumenta as chances de progresso nas funções motoras e cognitivas, proporcionando maior autonomia e qualidade de vida para as crianças e suas famílias.


📚 Referências

• FREGNI, F. et al. Noninvasive brain stimulation in the treatment of neurological diseases. Neurotherapeutics, v. 2, n. 3, p. 233-249, 2005.

• MORYA, E. et al. Beyond the motor cortex: transcranial direct current stimulation (tDCS) in children with neurodevelopmental disorders. Child’s Nervous System, v. 35, n. 4, p. 637-645, 2019.

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